O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é amplamente conhecido por sua associação com a desatenção, impulsividade e hiperatividade. No entanto, algo menos discutido, mas igualmente intrigante, é o fenômeno do hiperfoco. Ao contrário do que muitos pensam, o TDAH não se resume à incapacidade de focar, mas envolve também momentos intensos de concentração em tarefas que despertam interesse. Mas o que é, afinal, o hiperfoco? E como a psicopedagogia pode atuar para ajudar quem vive com essa característica a equilibrar seus desafios diários?
O hiperfoco é um estado de atenção extrema e intensa que permite que uma pessoa com TDAH se dedique por horas a fio a uma única atividade, muitas vezes ignorando o tempo e o que acontece ao redor. Embora isso possa parecer uma vantagem em determinadas circunstâncias, o hiperfoco também pode se tornar uma armadilha, levando à negligência de outras responsabilidades. Atividades como jogos de videogame, hobbies criativos, leitura ou até o trabalho podem “prender” a pessoa de tal forma que ela perde o controle sobre seus prazos e tarefas diárias, o que pode gerar dificuldades na escola, no trabalho ou até mesmo nas relações pessoais.
A pesquisa científica recente tem lançado luz sobre o hiperfoco no TDAH, demonstrando que essa característica é mais comum do que se imaginava. Um estudo conduzido pela Universidade de Cambridge, em 2022, apontou que cerca de 60% dos adultos diagnosticados com TDAH relataram experiências frequentes de hiperfoco. Essas pesquisas destacam que o cérebro de quem tem TDAH pode funcionar em extremos: dificuldade em se concentrar em tarefas rotineiras e foco desmedido em atividades que despertam prazer ou interesse.
Compreender o hiperfoco é essencial no tratamento psicopedagógico. Dentro da psicopedagogia, a principal missão é encontrar um equilíbrio saudável entre as tarefas que requerem atenção e o uso produtivo do hiperfoco. A psicopedagogia, por sua abordagem personalizada e interdisciplinar, oferece ferramentas que podem ajudar a canalizar o hiperfoco de maneira construtiva, enquanto trabalha para melhorar a atenção nas atividades menos atrativas.
A primeira etapa de uma intervenção psicopedagógica é ajudar o aprendente a identificar em quais situações o hiperfoco ocorre. A partir dessa consciência, estratégias de autorregulação podem ser implementadas. Técnicas como a divisão de tarefas em blocos menores, o uso de cronômetros para pausar atividades e até a gamificação de tarefas diárias podem ser altamente eficazes para “quebrar” o ciclo de hiperfoco antes que ele se torne prejudicial.
Além disso, a psicopedagogia trabalha no desenvolvimento de habilidades de organização e planejamento. Ferramentas visuais como listas de tarefas, cronogramas e lembretes podem ajudar a pessoa a sair do estado de hiperfoco com mais facilidade e retornar ao equilíbrio das suas atividades diárias. Estudos também indicam que as práticas de mindfulness, que trabalham a atenção plena, são eficazes para ajudar a regular o foco em pessoas com TDAH. Um artigo publicado no Journal of Clinical Psychology, em 2021, relatou que indivíduos com TDAH que praticavam mindfulness diariamente apresentavam uma maior capacidade de autorregulação, tanto para lidar com a desatenção quanto com os episódios de hiperfoco.
O grande desafio para quem vive com TDAH é justamente encontrar esse ponto de equilíbrio entre o hiperfoco e a desatenção. Para isso, a psicopedagogia é uma aliada essencial, já que oferece um espaço de acolhimento e desenvolvimento, onde o aprendente pode transformar suas particularidades em habilidades valiosas para o seu dia a dia.
Por fim, é importante lembrar que o hiperfoco não é, necessariamente, algo negativo. Quando bem direcionado, pode ser uma poderosa ferramenta para o aprendizado e a produtividade. A chave está em aprender a gerenciar essa concentração extrema e utilizá-la de maneira positiva. E é nesse ponto que a psicopedagogia faz a diferença, ajudando o aprendente a construir estratégias para viver com mais equilíbrio e alcançar seus objetivos.
